☯️ MDV #37 - Journaling
(tempo de leitura aprox. 8 min)
Nas duas últimas semanas eu falei sobre a importância de se ter uma marca forte e como o storytelling pode te ajudar a construir a sua.
Mas pra que tudo isso role direitinho é preciso uma certeza: a de onde se quer chegar.
E parar pra pensar nisso é uma tarefa quase impossível com a rotina maluca que qualquer pai ou mãe que trabalha enfrenta, não é mesmo?
Aproveitando que essa semana fez um ano que eu introduzi uma prática na minha rotina diária (falei sobre isso lá na MDV #4), hoje eu vou compartilhar o que eu aprendi sobre essa ferramenta que foi fundamental pra me trazer clareza de pensamento na fase mais difícil da minha vida: o journaling.
O que é o journaling?
O nome faz parecer complicado, mas ele nada mais é do que um registro organizado em datas, por escrito ou em formato audiovisual, de temas previamente definidos que reportam o que de relevante aconteceu em certos domínios no decorrer de qualquer período.
O journaling vai além de apenas colocar seus pensamentos no papel. Pra mim, é uma maneira de organizar as ideias e entender os problemas que estou tentando resolver - e se reinventar perto dos 40 com 5 filhos embaixo do braço traz um monte deles.
Demorou um ano pra eu perceber isso de verdade, mas ao escrever meus pensamentos, também ganhei uma melhor compreensão de meus próprios valores, sonhos e objetivos.
Como já mostrei lá no Insta, eu faço o meu por escrito logo de manhã ou à noite, antes de ir dormir – e não me toma mais do que 5 minutos.
Esse caderno azul do vídeo, aliás, também durou um ano. E ontem, enquanto organizava as anotações e planejava a semana, dei uma folheada pra lembrar tudo que havia anotado nesse ano.
E percebi que escrevi um livro, literalmente. Tá tudo ali, datado e registrado.
Escrever esse livro que ninguém vai ler me ensinou CINCO coisas:
1 - Colocar no papel ajuda a filtrar o que não presta
Eu sei que só de pensar em COLOCAR algo novo na sua rotina já dá um arrepio na espinha. Mas esse é um dos benefícios que fazem valer a pena tentar.
Quando você reserva um tempo para documentar seus pensamentos e ideias, cria um espaço para reflexão e introspecção. É o SEU tempo, sabe? Você pode explorar suas emoções, analisar suas experiências e obter insights sobre sua própria mente - e, muitas vezes, pode ser só isso que você esteja precisando.
Ao fazer essas anotações à mão, o cérebro registra melhor as coisas porque exige mais dele. O processo é mais lento do que digitar no computador ou no celular e é preciso prestar mais atenção pra não errar, o que acaba usando outras conexões entre neurônios.
Com a prática, assim como qualquer parte do corpo que se treina todo dia, essas conexões também vão ficando mais fortes. Com o tempo, fica mais fácil filtrar o que não importa e focar no que importa.
E saber distinguir um do outro é o primeiro passo para ter clareza.
2 - Pensamentos mudam percepções
Sabe quando você está pensando em comprar um carro novo e começa a ver vários modelos iguais na rua? Esse é o chamado fenômeno de Baader-Meinhof, que traz a percepção de aumento de frequência e faz a gente acreditar que aquilo não acontecia antes.
Em outras palavras, pensar mais em uma coisa faz com que a gente veja mais dessa coisa à nossa volta – e o journaling pode dar um empurrãozinho. Por exemplo:
• Anotar uma coisa pela qual eu sou grato todos os dias me faz ser mais grato de modo geral.
• Escolher uma memória legal pra eternizar no caderno me faz i) reviver momentos gostosos do dia com um sorriso na cara e ii) prestar mais atenção enquanto eles acontecem.
• Buscar um momento "uau!" no meu dia me faz (ainda mais) contemplativo e me ajuda a apreciar a beleza da vida – o que, de acordo com o psicólogo Dacher Keltner, pode diminuir o stress, silenciar o crítico dentro de nós e nos inspirar a agir de maneira menos egoísta.
3 - Pensamentos viram ações
Do mesmo jeito que é possível mudar nossa percepção da realidade, ter pensamentos melhores é mais fácil do que parece. Além de cuidar da qualidade das informações que eu consumo, eu estabeleci algumas regras pra facilitar o processo – e uso o journaling pra me ajudar.
Por exemplo, eu só foco no que é positivo, mesmo quando eu sei que o dia poderia ter sido melhor. Isso me condiciona a ver o lado bom das coisas e eu acabo me tornando uma pessoa mais otimista, que age como tal.
3 - É preciso ser conciso
Traduzir pensamentos é provavelmente a minha maior dificuldade. Acabo usando mais palavras do que o necessário, ou repetindo a ideia com outras palavras pra ter certeza que o outro entendeu.
Aqui, tanto a produção de conteúdo no LinkedIn como o journaling me ajudaram demais. O primeiro, porque preciso usar a menor quantidade de palavras possível, evitando grandes blocos de texto e facilitando a leitura; o segundo porque, como só tenho uma linha por dia, preciso ser capaz de articular e resumir a ideia no espaço disponível. E tem funcionado.
4 - Hábitos e intenções mudam o jogo
Existe algo muito poderoso em alinhar intenção e hábitos, anotando diariamente o seu comprometimento. Aqui, meu lado nerd que ama dados me ajudou bastante porque eu acabei criando um sistema bem visual que me ajuda a identificar padrões de maneira muito rápida. E isso torna mais fácil corrigir.
Você não precisa ser doido igual eu, mas pode definir quatro hábitos ou ações diárias que estão alinhadas com onde você quer chegar. Por exemplo, digamos que você quer ser uma pessoa mais saudável e melhorar seu networking. Nesse caso, no seu journal pode ter:
i) tomar 3 litros de água
ii) dormir 7 horas por noite
iii) caminhar por 30 minutos e
iv) fazer um post no LinkedIn.
Seu trabalho a partir dali será apenas colocar um X nos quadradinhos correspondentes e, depois, não quebrar a corrente que se forma.
5 - Repetição mostra padrão
Como nosso cérebro é especialista em identificar mudanças, ele mesmo vai processando e agrupando todos esses inputs diários de uma maneira que faça sentido pra ele. Além disso, ele tem a incrível capacidade de se adaptar e se reorganizar constantemente para otimizar o seu funcionamento.
Ao perceber esses padrões e se conscientizar deles, você também vai se conhecendo melhor, compreendendo suas preferências e desejos de forma mais profunda. Isso também te torna mais consciente de suas próprias reações e emoções.
E quando algo fugir do padrão, o cérebro vai além da simples identificação. Ele entra em ação, buscando identificar onde é preciso intervir, seja para corrigir ou buscar uma solução alternativa. Essa habilidade de autoajuste e adaptação é fundamental para o nosso desenvolvimento e crescimento pessoal.
Eu não sei se o journaling é pra você. Eu mesmo hesitei por muito tempo. Achava que não teria tempo ou que seria um saco TER que preencher coisas sobre um dia que eu gostaria de esquecer.
Mas tem me servido também como uma saída criativa, um lugar onde posso explorar novas ideias, experimentar diferentes perspectivas e desenvolver seus pensamentos e opiniões (como essa página abaixo que fiz em abril do ano passado, antes mesmo de seguir um processo fechado).
A jornada é pessoal, e a experiência de cada um é única. Uns dias você encontrará insights profundos; em outros, pode simplesmente desabafar.
Acima de tudo, meu journal é um espaço seguro para me expressar sem julgamento ou limitações, que libera minha imaginação e permite que as ideias fluam livremente.
Eu sou uma pessoa melhor depois de abraçar o processo e confiar que ele me trará maior consciência sobre mim, meus problemas e minhas soluções.
Você já experimentou o journaling antes? Compartilhe suas experiências e pensamentos comigo. Me manda uma DM lá no Instagram ou um email. Vamos inspirar e apoiar uns aos outros nessa jornada porque a luta já é difícil demais sozinho...
Frase da semana
Fique bem!
Daniel
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