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☯️ MDV #53 - Escolhas II

☯️ MDV #53 - Escolhas II

(tempo de leitura aprox. 3 min)


Hoje, 08 de janeiro, é uma daquelas coincidências da vida: essa é a primeira edição do segundo ano de MDV.

Fazer algo por 52 semanas seguidas, sem falhar, me abriu novas possibilidades, me mostrou um caminho que eu não conhecia e me fez descobrir um Daniel que gosta muito de escrever.

Isso tudo já daria assunto suficiente pra essa edição.

Mas é que, além disso, hoje eu estou com a exata idade que meu pai tinha quando morreu. Down to the day, como dizem os americanos.

Eu venho pensando no dia de hoje há meses.

Tempos atrás, numa das minha conversas com o Cristian, o coach argentino mais brasileiro que existe, mencionei que essa situação estava me tirando o foco, o sono e a paz.

Ele, sempre muito ponderado, me fez a melhor pergunta que eu poderia ter ouvido naquela hora:

"O que você vai fazer de diferente quando abrir os olhos dia 9/jan pra viver a vida que seu pai não viveu?"

Pergunta difícil de responder, né?

Eu sempre enxerguei meu pai como uma entidade, sabe? Uma coisa quase mística, perdida em algum lugar longínquo do passado.

Antigamente, a gente se encontrava somente em fotos ou em alguma fita cassete empoeirada – minha mãe tinha esse costume de gravar a gente falando bobeira no microfone e eu passava horas ouvindo e gargalhando.

Tem uma que eu falo "potemba" em vez de manteiga, história que ela não me deixa esquecer porque sempre conta pra algum filho meu quando falam qualquer palavra do jeito errado.

Lembro de ter uns 6 ou 7 anos e colocar essas fitas pra tocar só pra ouvir a voz do meu pai e imaginar como ele seria, ou como seriam nossas vidas se ele estivesse ali com a gente – se você já assistiu Onward, da Pixar (no Brasil o filme se chama "Dois Irmãos"), tem uma cena mais ou menos assim.

Sempre falei muito pouco sobre ele, principalmente na infância. Não tenho nenhuma memória, não sei quase nada sobre sua vida, suas histórias nem suas preferências.

Não pense que era um assunto a ser evitado em casa, pelo contrário. Minha mãe sempre me contou com muita abertura qualquer coisa que eu quisesse saber.

Mas acho que, no fundo, eu tinha medo de deixá-la triste ao lembrar das épocas difíceis. Coisa de criança.

Depois de praticamente esquecido durante toda adolescência e começo da vida adulta, voltei a me encontrar com meu pai quase que diariamente. Agora não mais através de uma fita, mas na própria paternidade.

Via o Antonio crescendo e pensava em tudo que ele havia perdido.
Via as meninas nascendo e lembrava que ele, também, queria uma filha.
Via como a falta de referência pode ser uma faca de dois gumes. Bem afiada.

Mas também via que eu podia fazer outras escolhas. Escolhas melhores.

Com o passar dos anos, aquela aura mística foi perdendo força e comecei a enxergá-lo como um cara normal que tinha seus problemas, suas responsabilidades, qualidades, lutas e dificuldades. Assim como eu e você.

Refletindo sobre essas escolhas nos últimos tempos, eu cheguei à conclusão que existem três tipos de pessoa:

  1. A que não está satisfeita com os rumos da vida e se dedica todos os dias pra mudar a situação.
  2. A que não está satisfeita com os rumos da vida, mas não faz nada pra mudar.
  3. A que não se importa.

Qual delas é você?

PS: pra comemorar o dia que meu pai não viveu só tem uma coisa que eu poderia fazer – acordar na cama do meu filho.


Frase da semana

💬
"Não dá pra voltar os ponteiros do tempo." - Hands of Time, Groove Armada

Fique bem!

Daniel