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☯️ MDV #14 - A dança da dopamina

☯️ MDV #14 - A dança da dopamina


Desde que eu embarquei nessa jornada pra me tornar uma pessoa melhor, eu sabia que teria que enfrentar alguns demônios.

Pra dar nome aos bois, o da procrastinação e o da gratificação imediata.

Apesar de perigosíssimos juntos, hoje vou focar no segundo.

No meu caso, a gratificação imediata sempre chegou disfarçada de "você merece". 😬

Até aí, tudo bem.

Só que pra alguém que procrastinava aspectos importantes da vida, é possível ver a desconexão, né?

E o "você merece" sempre aparecia em forma de comida, na cervejinha pra relaxar, na recusa a dormir cedo para "aproveitar o silêncio" e na evidente dificuldade de acordar na manhã seguinte.

Apesar de nunca ter atrapalhado minha vida, essa foi minha maneira de operar por anos - o que me afastava cada vez mais do "Daniel ideal".

🧠 Entendendo o problema

Ao invés de simplesmente tentar lutar, comecei a ler tudo que eu podia sobre como o cérebro funciona.

Basicamente, dentro de nossas cabeças há uma máquina de sobrevivência que está a todo momento fazendo simulações com base em tudo que chega nela - inclusive os pensamentos.

Ela imagina cenários positivos e negativos, possíveis e impossíveis, sobre todas as situações e calcula nossas chances de continuarmos vivos.

Só que essas simulações não acontecem conscientemente.

Senão, não daria pra focar em mais nada! A gente ia pirar!

E doido não vive muito tempo…

Por isso, ele evoluiu para que pudesse rodar alguns programas no background e garantir que a gente chegasse no final daquele dia como começamos: vivos.

Em seu livro Thinking, Fast and Slow, Daniel Kahneman chama de sistemas 1 (automático) e 2 (calculado).

Freud chama de ego (realidade), id (instintos) e superego (valores e moral). Consciente e inconsciente.

Independente da escola de pensamento ou do nome, são só maneiras de tentar entender e racionalizar o funcionamento da mente.

Porque, no fim das contas, somos um cérebro operando e reagindo constantemente - e instantaneamente - ao presente, baseado nas experiências anteriores.

🔁 O sistema de recompensas

Um desses "programas" que fica rodando o tempo todo é o tal do sistema de recompensas.

Ele tem lá suas cartas na manga, chamadas neurotransmissores.

Principalmente através da dopamina (guarde esse nome), ele associa estímulos relacionados a substâncias, situações, eventos e atividades a resultados positivos (repetir) ou negativos (evitar).

Assim como cachorros adestrados, aprendemos a repetir ações que garantam nossa sobrevivência, seja ela física ou social.

A lógica é: se isso aconteceu antes e sobrevivemos, bora fazer de novo porque queremos continuar vivos nesse mundão.

Só que o cérebro não consegue prever o que não conhece.

❌ Então, diante de novas situações, ele se utiliza de suas cartinhas para nos manter longe de tudo que é novo. ❌

O novo é incerto e ele foge da incerteza como o diabo da cruz.

Ele faz de tudo pra dar a falsa sensação de que a situação atual, que pode não ser lá essas coisas, ainda é melhor do que o pior dos cenários.

Ele te prende na zona de conforto:
💩 um emprego bosta, é melhor que não ter emprego.
💩 um relacionamento bosta, é melhor que ficar sozinho.
💩 um corpo bosta, é melhor que passar fome e suar na academia.

Seu estado preferido é a inércia, mas a vida está sempre em movimento.

E no meio de algum livro cujo título agora é irrelevante, me deu um click:

🔑 a chave para eu me tornar a pessoa que eu gostaria de ser estaria em hackear esse sistema de recompensas.

Na teoria, é simples:

"E se eu convencesse meu cérebro que [comportamento desejado] é melhor que [comportamento atual]?" 🤔

"Nossa, Einstein, como você é inteligente! Conta aí como faz então."

Fake it until you make it

Você já deve ter ouvido essa frase né? Seria algo como"finja que é até se torne".

Me parece que o caminho é basicamente convencer seu cérebro através da ação e da repetição que você é uma coisa diferente do que ele acha que é.

É ÓBVIO que mudar um hábito ou vencer um medo é difícil.

Ainda mais depois de velho.

Afinal, se você está vivo há sabe-se lá quantos anos, PRA QUÊ MUDAR?

As redes sociais (sempre elas)

Se você assistiu Social Dilemma na Netflix, sabe que as redes sociais se utilizam de tudo quanto é artifício pra te fazer passar o máximo de tempo possível nelas.

A mesma dopamina que inunda nosso cérebro quando comemos um chocolate (calorias = energia = vida) dá suas caras quando usamos as redes.

Somos seres sociais e, evolutivamente falando, sobreviver em grupo é mais fácil que sozinho.

Por isso, toda vez que recebemos uma notificação no celular, nosso cérebro entende "opa! somos parte de um grupo, então nossas chances de sobreviver aumentaram. deixa eu liberar uma dopamininha aqui pra esse campeão!"

Com o uso repetido, as redes criam um loop infinito de descarga de dopamina que sacrifica o prazer do amanhã em prol do agora.

É por isso que há algo mágico em agir mesmo com medo.

Porque você prova pro seu cérebro quem é que manda.

E me parece ser essa a maneira mais efetiva de hackear esse sistema e usá-lo a seu favor: menos redes, mais ação.


🗣️ Minhas 3 recomendações da semana

📖 Livro: um dos primeiros audiobooks que eu ouvi foi "O Poder do Hábito", de Charles Duhigg. É um livro fascinante que explora como os hábitos funcionam e como podemos usá-los a nosso favor para mudar nossas vidas. É possível reprogramar o cérebro e abandonar hábitos que não nos servem mais, substituindo-os por outros mais saudáveis.

📺 Netflix: "O Dilema das Redes" (The Social Dilemma) está disponível na Netflix. Ele discute como as redes sociais e a tecnologia afetam nosso comportamento, pensamento, saúde mental e sociedade. Com depoimentos de especialistas e ex-funcionários das principais empresas de tecnologia, as queridinhas que ficamos bravos quando não conseguimos acessar, o documentário traz uma série preocupações e ideias para um futuro melhor online.

📱 App: O aplicativo Forest ajuda a gente se concentrar em nossas tarefas e a reduzir a distração causada pelos smartphones e redes sociais. O conceito do aplicativo é plantar uma árvore virtual cada vez que você inicia uma sessão de foco, e a árvore crescerá enquanto você trabalha. Se você sair do aplicativo pra dar aquele confere nas redes sociais ou outra atividade, a árvore morre. É uma maneira lúdica de se comprometer com o trabalho e criar um senso de responsabilidade.

Frase da semana

💬
"O mundo vai te perguntar quem você é, e se você não souber, o mundo irá te dizer" - Carl Jung

Ótima semana!

Daniel