☯️ MDV #61 - Arrependimento
(tempo de leitura aprox. 4 min)
Esses dias comecei a ler "The Power of Regret", de Daniel Pink e ele me abriu a cabeça.
Sempre vi o arrependimento como algo negativo, que nos consome e atormenta por anos a fio.
Mas meu xará oferece no livro um novo olhar, no qual é possível usar o arrependimento como ferramenta para o crescimento pessoal e profissional.
Inspirado por essa ideia, hoje vou compartilhar dois dos maiores arrependimentos da minha carreira.
Pra contar um deles vou usar o método STAR (Situação, Tarefa, Ação Resultado), que ensino no meu curso de Personal Branding.
Bora?
Dinheiro não é tudo
O ano era 2010 e eu já namorava com a Anna há dois anos. Eu havia deixado o marketing das revistas masculinas da Editora Abril em 2008 pra trabalhar na Kellogg's, onde passei por quase todas as marcas e aprendi mais que em quatro anos de faculdade.
Na época, nosso orgulho era colocar os R$100 que nos sobravam no mês numa poupança conjunta da Caixa. A gente queria casar.
Minha ex-chefe na Playboy estava saindo e o gerente da área me chamou pra bater um papo. Eu já conhecia bem o modelo de negócios e, como havia demonstrado crescimento sólido nos últimos anos, me fizeram uma proposta.
Trabalhar lá não combinava mais com o cara que eu havia me tornado e nem era mais motivo de orgulho – muito menos pra Anna. Mas meu salário iria dobrar e a gente queria muito casar.
Dois meses depois, compramos um apartamento na planta há 10 minutos do escritório. Ali eu me deixei acomodar com a possibilidade de uma vida tranquila e previsível e a zona de conforto se instalou de vez, puxando o freio de mão do meu crescimento.
Até que 5 meses antes de entrar na igreja, o facão da reorganização passou pelo prédio. E levou junto minha cama quentinha.
Nunca mais deixei o dinheiro falar mais alto que meus valores.
Amarrando as pontas
Seis meses antes, a Playboy Brasil comemoraria seu 36º aniversário com Adriane Galisteu na capa, 16 anos depois de sua primeira aparição - até hoje a 3ª edição mais vendida da história.
Ao contrário do que se pensa, a verba mensal de marketing da revista era bem apertada. Menos na edição de aniversário, que dava pra brincar um pouco mais.
Se você trabalha com marketing, talvez se lembre que o Kassab, então prefeito da cidade, implementou a 'lei da cidade limpa'. Ela proibia e regulamentava toda e qualquer publicidade nas ruas da capital paulista.
Pra mim aquilo foi uma decepção dupla. Primeiro porque a propaganda em outdoor foi talvez a principal razão que me levou a cursar Publicidade; segundo porque a Neogama, uma das maiores agências do país e que atendia a gente na época, sempre criava uns outdoors muito criativos. O custo de produção era super baixo e bastava alguns deles pela cidade que o boca-a-boca cuidava do resto.
Como gerente de marketing responsável pela revista, era de meu interesse que todo mundo falasse daquela edição porque o dinheiro do anunciante seguia (e ainda segue) a atenção do consumidor. Mas a falta de verba e o tempo apertado eram uma grande limitação.
Se você é de São Paulo, talvez se lembre do prédio da Abril na Marginal Pinheiros. Por ser uma região predominantemente residencial, ele chamava muita atenção.
Quando se passava por ali depois das 22h, era sempre a mesma cena: todos os andares apagados, menos dois – o da distribuição e o da redação da Veja.
Indo pra balada numa sexta-feira de julho, eu olhei aquilo e tive uma ideia: e se a gente deixasse o prédio inteiro aceso e cobrisse janelas específicas pra formar o famoso coelhinho em tamanho gigante no dia anterior à coletiva de imprensa que anunciaria a capa?
Com o time a bordo, já na segunda demos o pontapé inicial:
- falamos com o departamento jurídico pra avaliar os riscos de um potencial processo da prefeitura.
- depois, precisamos convencer a administração predial. Era possível fazer aquilo?
- em seguida, o departamento de compras conseguiu uma empresa pra instalar cortinas blackout temporárias.
- também conversamos com nossa assessoria de imprensa pra que chamassem os veículos mais influentes pra cobrir a ação, filmá-la e subir no Youtube depois.
Decidimos que a ação toda duraria somente algumas horas e que aconteceria na madrugada pra não atrapalhar e diminuir o risco de fiscalização da prefeitura. Era o suficiente.
Tava tudo redondo. A mecânica, chamada no meio publicitário de 'ação de guerrilha', estava pronta e com todas as pontas amarradas. Menos uma.
Eu não havia vendido a ideia pro manda-chuva, que ficou sabendo por outro departamento e me chamou na sua sala. Cético, não enxergou potencial na ação, torceu o nariz e pediu pra cancelar tudo.
Esse episódio me ensinou que uma ideia só é boa se executada. E que, numa empresa, ela só é executada se for comprada também por quem assina o cheque.
Revisitar esses momentos de arrependimento na minha carreira foi um exercício libertador e esclarecedor.
Aprendi que esses arrependimentos não são apenas marcas de falhas ou decisões mal tomadas, mas sim preciosos pontos de inflexão que me guiaram até aqui.
Te convido a fazer o mesmo – e a compartilhar seus aprendizados com sua rede.
O LinkedIn precisa de menos histórias de sucesso e de mais gente real, que rala, que tenta, que erra, mas que levanta e continua.
Ao abrir espaço para a vulnerabilidade e as lições aprendidas com os erros, incentivamos uma cultura de transparência e de crescimento mútuo.
Mais do que um desabafo, o texto de hoje é um convite a construir uma marca pessoal autêntica e acessível, valorizando suas histórias que só são reais porque são imperfeitas.
E eu sei que você tem uma coleção delas.
Frase da semana
Fique bem!
Daniel
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